Em seu segundo livro, Eduardo Spohr volta ao universo dos anjos, contando a história de Kaira, uma ishim (casta de anjos que controlam os elementos naturais) perdida na Terra. Dois anjos são destacados para procura-la a ao querubim que a protegia, o ofanim Levih e o querubim Urakin. Grande parte da trama se passa contando como a dupla encontra a ishim e tenta fazê-la recordar de sua condição angelical e da missão a ela delegada pelo arcanjo Gabriel. Em sua contendam contam com a ajuda do querubim exilado Denyel, que abandona as hostes de Miguel para “passar” para o lado dos rebeldes.
Herdeiros de Atlântida é o primeiro livro de uma série que segundo o autor vai mostrar a guerra civil entre os dois irmãos (Miguel e Gabriel) sob um ponto de vista diferente, o dos capitães, anjos subalternos na disputa. E de fato, Herdeiros é uma obra distinta de A Batalha, sob muitos aspectos. Nessa crítica vou me concentrar nas semelhanças e diferenças entre essas duas obras que eu pude (com minha costumeira visão questionável) observar.
Personagens: Em A Batalha temos um personagem principal que é literalmente o esteriótipo do herói (e vivam os clichês). Ablon é o cara que tem moral ilibada e resolve tudo (em geral na porrada mesmo). Já Denyel é o oposto, o clássico anti-herói. Sabe aquele cara sacana que, mesmo quando faz o que é certo, usa os meios mais socialmente escusos? Então, é ele. Essa faceta da personalidade do anjo é tão explorada que chega a irritar em alguns momentos. Provavelmente Eduardo tentou afastar ao máximo seus dois personagens, contrapondo ao máximo as personalidades de Denyel e Ablon (que por sinal faz uma ponta).
Narrativa: Muito embora seja um pouco mais linear que seu antecessor, Herdeiros recorre também a flashbacks para explicar certos pontos da trama, mas principalmente para conectá-los. A narrativa é mais fluida que em A Batalha, a leitura fica mais rápida e mais fácil de digerir (talvez até demais).
Batalhas: Em Herdeiros, as batalhas são talvez menos técnicas se comparadas às batalhas solos de Ablon, mas nem por isso menos interessantes. Elas em geral se passam com menos combatentes, não vemos grandes exércitos. A cena que mais se assemelha a uma guerra é aquela na qual Urakin e Denyel enfrentam os demônios em Athea.
Previsibilidade: Não sei se o problema é comigo, mas em certos momentos achei que o livro caiu um pouco na previsibilidade. Por exemplo, sobre a real natureza do Zablon, guarda-costas de Kaira, depois que eles o encontram, ou do papel do Arcanjo Rafael ao quase término do livro.
Referências: Um ponto bem legal do livro são as referências que o autor faz com o sua obra anterior. Talvez a mais legal seja quando os anjos estão navegando pela Via Atlântica e Denyel explica seu funcionamento comentando logo depois sobre um caminho parecido criado pelos babilônicos. É uma referência à Via Secreta, tomada por Ablon e Flor de Leste quando atravessaram o Deserto da Arábia. Outra referência bem bacana (essa não relacionada ao A Batalha) é ao folclore brasileiro. Quanto Kaira e Denyel chegam ao vértice na Amazônia se deparam com criaturas do nosso folclore, como seres semelhantes ao Curupira, com os pés voltados pra trás e tudo.
História paralela: Ao mesmo tempo que trabalha seus personagens centrais, Eduardo Spohr apresenta um outro, O Primeiro Anjo, já antevendo as continuações.
Resumindo, Herdeiros é um livro bem legal, que difere bastante de A Batalha, tanto na forma como lida com os personagens quanto no estilo. É muito mais um livro de ação, aventura do que um épico. A meu ver, Eduardo Spohr conseguiu expandir seu universo e deu mais pano de fundo pra próximos livros, ao evitar cair em uma continuação pura e simples de sua primeira obra. Aliás, para quem ainda não teve a oportunidade de ler A Batalha do Apocalipse, pode ler Herdeiros de Atlântida sem medo, são obras complementares. Resumindo, Filhos do Edén: Herdeiros de Atlântida é um bom livro, fale a leitura
Nota: 7
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