Ano passado eu escrevi aqui um pouco sobre a teoria mais importante da Biologia, a Teoria Evolutiva. Na postagem de hoje quero resgatar algo que é muitas vezes negligenciado, tanto por biólogos quanto pelas pessoas normais em geral, a história. Sem entender como o pensamento evolutivo surgiu e cresceu, fica muito difícil compreender como estamos hoje.
Muitas pessoas especularam sobre evolução antes de Darwin, desde filósofos gregos até Erasmus Darwin, seu avó. Contudo, o primeiro homem a tratar o assunto de forma científica foi um naturalista francês chamado Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) . Lamarck possui hoje a fama (injusta) de estar errado sobre a evolução, em especial com duas de suas ideias (não necessariamente as mais importantes): a lei do uso e do desuso e a herança das características adquiridas. Falaremos hoje um pouco sobre Lamarck, suas ideias e porque é injusto julgá-lo como burro (como livros didáticos em geral fazem).
A teoria evolutiva de Lamarck baseava-se em alguns conceitos centrais, o uso e o desuso, a herança das características adquiridas, a necessidade, e a origem independente das espécies. Vamos tentar entender cada um deles.
Lei do Uso e do Desuso
O raciocínio é simples. Quando utilizamos muito um órgão ele tende a aumentar de tamanho. De forma oposta, ao utilizarmos pouco um órgão ele diminui, atrofia. Na verdade, Lamarck não criou um conceito novo. O que ele fez foi sistematizar um conceito que era amplamente divulgado oralmente (ou seja, de senso-comum). Tanto naquele período do tempo quanto atualmente o uso e desuso ainda encontra muito adeptos.
A lei do uso e desuso está errada? Não necessariamente. Certas partes do nosso organismo podem aumentar ou diminuir conforme sejam ou não usadas. Por exemplo, se um homem passar a frequentar a academia e treinar com afinco, seus músculos aumentarão em tamanho. Em outras palavras, o uso aumentado do tecido muscular o leva ao aumento de tamanho. Por outro lado, se esse mesmo burro homem passar a usar esteróides para aumentar sua massa muscular terá problemas. Os asteróides esteróides nada mais são do que hormônios sintéticos, análogos à testosterona produzida pelos testículos. Quando percebem que a corrente sanguínea do camarada está saturada de hormônios, esses orgãos “cruzam os braços”. Afinal, por que trabalhar quando fazem o seu serviço? Com o tempo, o “ócio” acaba fazendo com que as gônadas do caboclo atrofiem, acarretando a ele, dentre outros problemas “peitinhos” ginecomastia.
Evidentemente, a maioria dos órgãos não aumenta ou dimui drásticamente com o uso ou não. Além disso, para tentar explicar a evolução dos seres vivos, é necessário considerar outro mecanismo em conjunto: a herança das característica adquiridas.
Herança das Características Adquiridas
Esse é outro conceito chupinhado sistematizado à partir do senso comum por Lamarck. A herança das características adquirdas diz que, as características que um indivíduo adquire durante sua vida poderiam, ao menos em parte, ser transmitadas aos seus descendentes. De alguma forma, um caráter qualquer adquirido durante sua vida poderia passar à sua prole. E é aí que articulamos com o uso e o desuso. Se durante sua breve existência você desenvolveu muito seus músculos, teoricamente seus filhos também terão essa características, ou seja, serão fortes. Agora, se você usou esteróides, tenho más notícias pra você…
Hoje sabemos que a herança das características adquiridas (também conhecida como herança lamarquiana ou herança “leve”) não ocorre nesse planeta, ao menos a npivel genético. As características que são adquiridas por um indivíduo durante sua existência não podem acessar o material genético das células germinativas e serem propagadas para as gerações seguintes.
Evidentemente, Lamarck não possuia informações que poderiam impedí-lo de cometer esse erro. Nada se sabia sobe hereditariedade. Era plausível na época (e infelizmente para muitas pessoas ainda hoje) que certas características pudessem ser transmitidas dessa forma. O próprio Darwin admitia que a herança das características adquiridas pudesse ocorrer, mesmo porque ele não foi capaz de elaborar uma teoria de herança decente.
Durante muito tempo, grande parte dos naturalistas aceitava a gerança lamarkiana como sendo real. Apenas após os trabalhos de August Weismann com roedores esse tipo de herança acabou sofrendo abalos consideráveis, até ser finalmente sepultado durante a Síntese Moderna.
Necessidade
Talvez o ponto principal do corpo de ideias evolutivas de Lamarck seja o conceito de ortogênese. Segundo esse conceito, existiria alguma força interna em cada organismo que o impeliria a evoluir. Em outras palavras, as espécies “querem” evoluir, “querem” mudar.
Um conceito que acabou influenciando Lamarck e aos seus seguidores, tanto na questão da ortogênese quanto a origem das espécies foi a Scala Naturae de Aristóteles. Segunda essa linha de pensamento, os seres vivos seguiriam uma linha pré-determinada, do organismo mais simples para o o mais complexo (que estranhamente seríamos nós). Desta forma, cada espécie atual estaria mudando, por necessidade, para uma direção pré-definida, ou seja, tornar-se humanos
A ortogênese possui tantos problemas conceituais que fica até difícil começar. Em primeiro lugar, nunca foi demonstrado que tipo de força seria essa, como ela agiria, onde e quando. E como sabemos, a ciência não pode assumir explicações sobrenaturais ou metafísicas (se não sabia disso reclame com seus professores de ciências). Além disso, não há qualquer evidência direta que nos remeta a uma força desse tipo. A aparente perfeição das formas de vida se sustenta apenas à primeira vista. Nunca é demais reforçar: não existe perfeição na natureza.
Origens independentes
No que diz respeito à origem das espécies, Lamarck acreditava que todas elas possuíam origens separadas. Cada espécie atual teria se originado independentemente por geração espontânea. Isso difere radicalmente da ideia darwiniana de origem comum, que será abordada no futuro aqui. Para Lamarck, as espécies são independentes e seguem caminhos paralelos, cada uma delas em uma etapa da evolução pré-determinada.
Aqui mais uma vez vemos a influência da Scala Naturae. Não existem ramificações durante a evolução. Cada espécie segue a sua própria escala, sem interferência das demais.
O que é importante para nós é perdermos aquela visão de “Lamarck errado e Darwin certo” que costuma ser propagada durante o ensino básico. Lamarck tinha muitas ideias, algumas corretas, outras parcialmente corretas e outras errôneas. Contudo, não podemos guilhotiná-lo por isso, uma vez que a ausência dos conhecimentos que temos hoje foi de vital importância para esses erros. Além disso, é bom lembrar que Darwin de certa forma também era um lamarckista, na medida que aceitava (ao menos parcialmente) as ideias de Lamarck.
Então pessoas queridas, e outras nem tanto, por hoje é só. Pra quem teve a paciência de chegar até aqui, semana que vem tem mais Evolução (ou não)
Legal mesmo!
ResponderExcluirMuito pertinente citar que o próprio Darwin era, de certa forma, um lamarquista.
Abraço!
Valeu guri.
ExcluirApareça sempre aqui!
Abraço
Carlitos!
ResponderExcluirAdorei seu post! Isso me lembrou muito das aulas do Erasto! Didático como sempre hein! =) Vc sabe né que quando eu precisar dar aula vou usar teus textos! ahuhauhuhauha
beijos
Oi Ingrid
ExcluirQuando eu escrevi esse texto eu me lembrei demais das aulas dele hehe.
E se precisar pode usar sim, fico até feliz hehe
beijos