segunda-feira, 3 de maio de 2010

Guerra do Vietnã, 35 anos - Agente Laranja

35 anos atrás terminava a Guerra do Vietnã, como acredito que todos saibam. Os veículos de informação estão repletos de matérias sobre a guerra, número de mortos, danos patrimoniais, entre outras coisas. Tive a ideia de fazer esse post ao perceber que teria que ministrar uma aula sobre alterações ambientais. Para fugir um pouco dos exemplos clássicos (DDT, CFCs) vou me utilizar de um poluente tão ou mais malvadão quantos os outros. Meu foco nesse post será uma substância utilizada de forma sistemática pelo exército estadunidense na Guerra do Vietnã, chamada de agente laranja.

Agente laranja


Utilizado na guerra como desfolhante, o agente laranja tinha uma função mais pacífica para o Homo sapiens, muito embora ainda prejudicial, a de herbicida. Na realidade é composto pela mistura de dois herbicidas diferentes, e sempre demonstrou ser bastante eficiente. Isso ficou bem evidente no Vietnã, quando grandes áreas florestadas foram pulverizadas com a mistura e perderam suas folhas. A estratégia dos comandados do Capitão América era retirar a cobertura vegetacional e expor os vietcongues, os quais se utilizavam dessa cobertura em suas táticas de guerrilha e também para acabar com as plantações de arroz do inimigo. Essas ações acabaram gerando sequelas, tanto em vietnamitas quanto em soldados norte-americanos, em virtude de uma substância indesejada, presente na arma química. Quando produzido de forma menos purificada, o agente laranja acaba gerando grandes quantidades de tetraclorodibenzodioxina, uma dioxina. Mas o que é uma dioxina?

Dioxinas




Já diria o Erasto, as dioxinas são "um balaio de gato". É um grupo de várias substâncias que possuem em comum o caráter orgânico, heterocíclico, além do péssimo hábito de contaminar de forma veemente seres vivos inocentes. São solventes orgânicos, o que permite que se disipem e acumulem em tecidos adiposos e também são virtualmente indegradáveis por qualquer ser vivo. São extremamente tóxicas, causando alterações no desenvolvimento dos sistemas nervoso, reprodutor, entre outros. Podem ser transmitidos através do leite materno e mesmo da placenta, causando más-formações aos fetos ou, se eles tiverem sorte, sua morte. Como se não bastasse, são compostos altamente carcinogênicos, o que quer dizer que podem aumentar suas chances de desenvolver câncer (como se comer produtos industrializados já não fosse suficiente). Pela Covenção de Estocolmo, as dioxinas (ao menos algumas delas - as dioxinas policloradas) são classificadas como Poluentes Orgânicos Persistentes, e seu uso é restrito.
As dioxinas mais perigosas são aquelas com a presença de cloro (organocloradas no vocabulário químico). Como um bom Poluente Orgânico Persistente From Hell elas tendem a sofrer biomagnificação**. Isso quer dizer que tendem a apresentar maiores concentrações em níveis tróficos mais altos, como nos consumidores secundários e terciários.

Como são sintetizadas

Dioxinas, podem ser produzidas de forma natural, por ações vulcânicas. De forma artificial, podemos obter (como se alguém quisesse isso) dioxinas principalmente da queima do PVC. Isso mesmo, os aparentemente inofensivos canos (portanto jamais taquem fogo nos seus encanamentos!!). Também podem ser produzidas como subprodutos de processos industriais, como o branqueamento do papel. Notem que a produção é sempre incidental, não planejada. As dioxinas são comumente produtos indejados de processos diversos da indústria. Cabe a nós Homo sapiens criar métodos novos de produção para evitar a produção dessas substâncias.

Dioxinas hoje

As dioxinas continuam na mídia. Recentemente alguns pesquisadores constataram que os níveis dessas substâncias ainda eram extremamente altos em pessoas que vivem no Vietnã, nas regiões afetadas pelo Agente Laranja. Essas pessoas possivelmente permanecem contaminando-se com alimentos, em especial peixes, e mesmo com o solo. Os danos no ecossistema não são menores.
Outro caso, esse mais recente, foi o do ex-presidente e ex-primeiro-ministro da Ucrânia Viktor Andriyovych Yushchenko. Ele foi envenenado em 2004, rezam as teorias conspiratórias pela KGB, por dioxinas. Seus níveis séricos beiraram mil vezes o de um Homo sapiens normal, não é a toa que ele ficou todo deformado (vejam a foto).

Que lições podemos tirar disso? Nem sempre soluções fáceis são boas e as dioxinas são apenas um exemplo. Podemos citar também o DDT, extremamente eficaz contra mosquitos mas se mostro pernicioso contra a saúde pública e dos nossos ecossistemas. Ou dos CFCs, gases extremamente úteis, mas péssimos para as indefesas moléculas de ozônio da estratosfera.





Fontes:
Gochfeld, Michael (2001). Dioxin in Vietnam - The Ongoing Saga of Exposure". Journal of Ocupation Medicine, 43 (5): 433-434

Schecter, Arnold; Dai, Le Cao; Päpke, Olaf; Prange, Joelle; Constable, John D.; Matsuda, Muneaki; Thao, Vu Duc; Piskac, Amanda L. (2001). Recent Dioxin Contamination From Agent Orange in Residents of a Southern Vietnam City. Journal of Occupational Medicine 43 (5): 435-443

http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2005/12/08/ult1807u24456.jhtm

**Minha amiga Lílian me alertou para o uso de uma terminologia correta (bicho burro, errou o nome, rsrs). Vou ter que começar um glossário aqui desse jeito.
Valeu Lí =D

Um comentário:

  1. Heyyy
    Resolvi comentar! Adorei esse último texto, mas ainda tô passada com o rosto do cara, acho que vou ter pesadelos hoje a noite!!! =O
    Tá bem legal o blog, pode deixar que vou passar por aqui pra dar uma olhada nas novidades.
    By the way... Adorei a modelo!!!!!!
    Beijão

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