terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Tópicos Essenciais em Biologia #3: Evolução #3

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Vimos, nos últimos capítulos, o que é evolução biológica e como Lamarck começou a tratar sobre o assunto. Hoje, conheceremos a história de Charles Robert Darwin (1809-1882) e Alfred Russel Wallace (1823-1913) e como o pensamento dos dois contribuiu para transformar a Biologia em uma ciência unificada.

Charles-Darwin

Charles Darwin era filho de Robert Darwin, um proeminente médico. Charles teve uma vida acadêmica conturbada, desistiu da faculdade de medicina e acabou cursando teologia. Sempre teve interesse por História Natural, em especial sobre Geologia e animais invertebrados. Darwin, como a maioria dos outros naturalistas da época, era fixista, ou seja, acreditava que as espécies não mudavam. Também era criacionista, em outras palavras acreditava que as espécies, em algum momento no passado, haviam sido criadas magicamente por algum ser superior. Contudo suas percepções começaram a de fato mudar quando fez sua clássica viagem ao redor do mundo à bordo do HMS Beagle. Durante sua jornada, Darwin coletou evidências que HMS Beagle o ajudaram a questionar tanto a criação especial quanto o fixismo.

De posse desses novos dados, Darwin ainda demorou vinte anos para preparar sua obra e suas ideias sobre evolução. Essa demora se deveu a vários fatores. Darwin havia casara-se com uma de suas primas prima e essa mulher era extremamente religiosa. Charles temia que suas descobertas acabassem sendo decepcionantes para ela, a qual já temia que sua alma fosse ao inferno. Além disso, também havia a questão sobre a opinião pública. Se atualmente demonstrar que dogmas religiosos são falsos, no século XIX isso era ainda pior. Darwin precisava de um trabalho muito sólido, e por isso passou vinte anos reunindo dados e evidências que dessem ao seu trabalho essa solidez. Para isso, realizou leituras e trabalhou também com a criação de animais domésticos, em especial de pombos. A grande capacidade da seleção artificial em produzir formas diferentes deu a ele argumentos para defender, posteriormente, a selação natural.

Entretanto, Charles poderia demorar ainda mais tempo para publicar suas ideias, não fosse uma carta recebida por ele, remetida por um certo Alfred Russel Wallace. Wallace Na correspondência, o jovem naturalista pedia a opinião de Darwin sobre uma ideia elaboradapor ele e que segundo o próprio Darwin, era o resumo perfeito de suas próprias ideias sobre evolução. Quando leu aquela epístola, Charles temeu perder a sua originalidade. Afinal, as ideias de Wallace eram idênticas as dele, e como todos sabem, quem as publica primeiro tem o mérito. Esse dilema se resolveu quando os dois, conjuntamente, publicaram um resumo de suas obras na reunião da Sociedade Lineana de Londres. Um ano depois, Darwin publicaria aquele que seria o mais importante livro da história das Ciências Biológicas, a Origem das Espécies

Quanto a Wallace, ele chegou à ideia da Seleção Natural como um insight, o famoso “eureca”, enquanto trabalhava em florestas do arquipélago malaio. Diferentemente de Darwin, o qual uniu observações meticulosas e anos de estudo e experimentação, Wallace fez uso principalmente de suas observações e algumas leituras. Em suma, ele estava na hora certa no lugar correto. Alguns dizem que Darwin roubou as ideias de Wallace, ou se aproveitou dele. Na realidade, ambos tiveram méritos na descoberta, chegaram, independentemente, ao mais poderoso conceito da Biologia: a evolução por meio da seleção natural.

É importante que falemos sobre dois conceitos importantíssimos para a evolução darwiniana: a seleção natural e a origem comum.

Seleção Natural:

Não é o meu objetivo aqui esgotar a seleção natural (isso é assunto pra outra hora). Para entendermos o que era a seleção natural para Darwin –Wallace basta pensarmos nos seguintes pontos:

Em qualquer espécie, a quantidade de filhotes produzidos é muito maior do que aquela que o ambiente pode suportar

A quantidade de indivíduos nas populações permanece praticamente constante com o tempo. Em outras palavras, na maioria dos casos não há aumento ou diminuição significativas nas populações.

Logo, podemos concluir que, de alguma forma, o ambiente regula aqueles indivíduos que sobrevivem ou não.

Como Darwin e Wallace chegaram a essa conclusão? O primeiro e o segundo pontos são fatos observáveis, e os dois (e qualquer pessoa pode) os visualizaram na natureza. Para concluir o terceiro, eles tiveram ajuda de um artigo escrito por Thomas Maltus, An Essay on The Principles of Population. Nele Maltus especulava que o crescimento populacional humano cresceria em proporção geométrica, enquanto a produção de alimentos seguiria proporção aritmética. Desta forma, em algum momento do futuro, haveria escassez de alimentos, fome e mortes. Wallace e Darwin transpuseram esse raciocínio para o mundo natural. Assim, enquanto as espécies possuem potencial reprodutivo grande, o ambiente é restritivo. A esse mecanismo, Darwin chamou seleção natural.

Entretanto, ainda não está claro, quais indivíduos são selecionados para sobreviver e quais morrem. Para entermos isso precismos conhecer os dois últimos pontos

Existe variação entre os indivíduos. Ou seja, uma caracterítica qualquer como por exemplo, tamanho, varia na população. Existem indivíduos grande, pequenos e médios.

Os indivíduos melhor adaptados ao ambiente no qual se encontram sobrevivem e tem mais descendentes. Esses descendentes herdam as caracteríticas mais vantajosas presentes em seus pais.

O ponto 4 é facilmente observável. Todos sabem que a variação existe em virtualmente todas as características presentes nos seres vivos. Contudo, o quinto ponto não é tão claro, ou pelo menos não era na época. É razoavelmente evidente que indivíduos que tenham variações mais vantajosas para um certo ambiente sobrevivam mais e tenham maior prole. Contudo, não era claro na época (e pra alguns pessoas ainda hoje) que essas características poderiam ser herdadas, o que pode (ou deveria ser) ser evidente para nós. A verdade é que esse foi o principal motivo para que a seleção natural não fosse aceita como o principal mecanismo da evolução até metade do século XX. Sobre os mecanismos de herança, falarei em oura oportunidade

Origem Comum

Em um ponto, a evolução darwiniana difere radicalmente da evolução lamarckiana. Para Lamarck, cada espécie evoluia de forma independente. Ou seja, a espécie Canis familiaris evouluiu de forma independente e nunca possuiu qualquer ramificação com qualquer outra espécie. Já para Darwin, e evolução segue o padrão de uma árvore,  ou arbusto. As espécies atuais possuem parentesco entre elas, são fruto da ramificação de espécies ancestrais. Em última estância, todas as espécies da Terra são descendentes de uma única espécie ancestral. Isso quer dizer que você leitor e digamos, sua frieira, compartilham um ancestral comum, que viveu em algum ponto do passado.

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A origem comum é um problema, talvez o principal, para grande parte das pessoas. Isto é bastante visivel por comentários como, “eu não evolui de um macaco” “mimimi”. Pode ser que a maioria das pessoas não goste de saber que nossa espécie (assim como qualquer outra) não surgiu do nada, mas evoluiu através de outras que já existiam. Pior ainda, que possuimos parentesco com todas as outras, desde chimpanzés até amebas.

Todavia, para desespero de alguns, a origem comum é plenamente corroborada por dados paleontológicos, anatômicos, embriológicos e moleculares (veremos sobre isso em postagens futuras)

No próximo post, finalizaremos a parte histórica da evolução com a Síntese Moderna

Até a próxima tetrápodes.

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